Meu templo é uma casa pequena
Meu templo é uma
casa pequena
·
As possíveis origens do culto e a necessidade
do templo
É sabido por todos que na terra mãe África, os povos originários
cultuam seus antepassados juntamente com as arquedivindades que se acredita
serem os fundadores de clãs e etnias. Estes cultos são instalados na natureza
de modo que não se tem a noção de que só se pode cultuar se for numa casa com
um salão grande, muito pelo contrário, só se pode cultuar se for na natureza. Esta
é uma concepção das culturas africanas, porém com o advento da colonização
europeia, o comercio de pessoas, o processo de organização de quilombos no
brasil, alterou significativamente a estrutura do culto e se criou a ideia de
templos religiosos para o culto e para iniciações.
Na
diáspora africana, neste êxodo forçado desta grande comunidade cultuadora, se
fez necessário criar espaços para a manutenção desta espiritualidade, que
inicialmente era agropastoril e as festas estavam ligadas as colheitas e procriações
dos animais, passa a ter uma conotação mais urbanística, e a ausência de
elementos originais abriu espaço para a criatividade do povo de santo que por
natureza é múltipla e diversa, sendo verdadeiro celeiro de criatividade.
Ao
contrario do que se vive hoje, as pessoas cultuadoras das divindades africanas,
trocavam muitas informações entre si, e havia uma verdadeira graduação
intelectual nos cultos. Os mais velhos, também conhecidos como Egbonmi (meu sábio)
eram pessoas catedráticas no entendimento da vida e do sagrado, tão íntimos de nós.
Estes antigos, consultavam e diziam para as pessoas que iam montar espaços de
culto, como deveriam proceder e o que deveriam ter para manter a casa de culto,
os itens de um templo, estavam ligados a necessidade e aperfeiçoamento de cada
época.
·
Os templos de hoje
A capacidade de acessar mais recurso hoje, garantiu aos novos líderes
religiosos a possibilidade de oferecer aos orixás o melhor que o capital
financeiro pode oferecer. As roupas dos orixás, outrora simples, cederam espaço
para uma identidade estilística maravilhosa. Os barracões que eram improvisados
em salas, abriram espaços para salões planejados, com local de destaque para
tronos e grandes cadeiras para os sacerdotes e dignitários do culto. Não vejo
problema a principio neste tipo de organização do espaço litúrgico; porém não vejo
mais o trânsito entre os sacerdotes para troca de saberes e aprendizados, não vejo
mais o senso de irmandade, não vejo mais a capacidade acolhedora, muito própria
das casas de santo, que sempre acolheram todos os excluídos. E o principal, não
vejo mais a graça e a formosura dos orisás, como também não vejo
respeito das pessoas para com estas divindades. Há um banho de desrespeito, e uma
coisa mais grave ainda, que é o racismo dentro da cultura dos orisas.
No Ijo Ogi, ainda hoje optamos por ser uma comunidade mais espiritual
que estética. Desde que iniciei minha jornada pelo caminho espiritual dos orixás,
logo após sair do mosteiro nos idos de 2006 e 2008, entendi que a minha missão
na terra é melhorar o espirito e como consequência melhorar o material, sendo
assim, o espaço do Ijo Ogi, é um espaço de busca do saber. Mais não uma
sabedoria professoral, ou uma sabedoria intelectual, acadêmica, mais uma
sabedoria para melhorar o nosso ori, alinhar nossos pés com nossa mente,
melhorar nossa qualidade de vida, deixando de lado as coisas que não nos deixam
evoluir. Uma sabedoria ainda que seja capaz de nos tornar únicos e exclusivo no
que concerne as atitudes frente aos desafios da vida.
Portanto, ao procurar um templo, não procure uma casa grande, ou uma
casa pequena. Não procure um líder religioso, não procure um lugar com roupas
bonitas. Quando procurar um templo, procure a sua própria verdade, quando
chegar ao templo, procure ouvir e sentir os orisas. Procure andar
descalço, procure comer com as mãos as palavras de sabedoria de Ifa e dos
Irunmoles, porque diferente de outras culturas, nossas divindades não estão paradas
num texto , mas vivas dentro de nós e elas falam sempre pelo oraculo, pelos
sonhos, pelos sinais da vida.
Ao procurar um templo, não prepare roupas para se embelezar apenas, ou
para usar o salão de seu templo como anfiteatro. Ao procurar um templo vá para rasgar
as roupas, a vaidade, a falta de sucesso na sua vida e se preencha pelo axé.
Porque no culto dos orisas o verdadeiro templo é o nosso corpo. E a
prova é tanta que Olodumare instalou em nosso ará (corpo) um tambor que bate
desde a nossa concepção, este tambor é o coração. E o tambor do coração bate
dia e noite para chamar em nós a nossa força vital.
Então caros filhos, amigos, leitor querido, ao procurar um templo,
procure desenvolver o seu axé, pois você que tem orisa, saiba ele não precisa
de casa e roupa, ele precisa só do tambor. E se faltar o onilu, ou ogan, ou
kambono, o orixá vai dançar do mesmo jeito, porque o tambor do peito, vai estar
pulsando sempre no peito de quem tem fé.
Esu de muito boa sorte a todos!
Baba Henrique – Ifadaré Eegunyemi
Comentários
Postar um comentário